História

Pegadas de anquilossauros do período jurássico são descobertas em Rosário do Sul

Marcos Fonseca

Uma descoberta feita em Rosário do Sul abre uma janela para se tentar entender a ainda desconhecida e misteriosa vida dos dinossauros na América do Sul durante o período Jurássico. O achado, que ocorreu em 2014 e foi publicado agora, foge ao tradicional trabalho dos paleontólogos, por se tratar não de ossos de animais e, sim, de cinco pegadas.

Marca escura (à dir.) ajuda a visualizar a pegada de anquilossauro (à esq.) encontrada em estrada de terra em 2014  Foto: Heitor Francischini / Divulgação

O estudo é coordenado pelo biólogo Heitor Francischini, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Ele analisou rastros deixados por anquilossauros, dentre outros dinossauros, em Rosário do Sul, na localidade do Cerro Torneado. A descoberta das pegadas é a principal e mais antiga evidência já encontrada da presença deste grupo de dinossauros na América do Sul. No Brasil, ainda não havia registro da presença dos anquilossauros.  

Ao lado da esposa, a geóloga Paula Dentzien-Dias, da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), ele conseguiu encontrar estas novas pegadas em 2014. Como os vestígios foram encontrados em uma estrada rural de terra, trabalhos de manutenção da via acabaram por destruir as pegadas, deixadas por patas de aproximadamente 40 centímetros de comprimento - uma pessoa que calça número 42 tem um pé de apenas 28 cm. O que sobraram foram reproduções e fotos, que agora são analisadas na tese de doutorado de Francischini na UFRGS para tentar descobrir a que espécie pertencia. Por enquanto, só é possível dizer que era de um anquilossauro.

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Atualmente cursando um doutorado sanduíche (de curta duração) no Novo México, nos Estados Unidos, Francischini conta que sua área de pesquisa se concentra em evidências não corporais de dinossauros, como ossos e dentes. Seu foco está em pegadas, restos de fezes (coprólitos) e tocas desses antigos habitantes da Terra. 

Biólogo Heitor Francischini, da UFRGS, e a geóloga Paula Dias, da Furg, encontraram rastros em 2014. Pegadas sumiram Foto: Heitor Francischini / Divulgação

EVIDÊNCIA RARA

Na descoberta em Rosário do Sul, o que surpreende os pesquisadores é o fato de ter sido encontrado uma evidência da presença dos anquilossauros no Brasil. Há raros vestígios de anquilossauros na América do Sul, e o registro brasileiro é confuso. Esses animais, que viveram em torno de 150 milhões de anos atrás, têm muito a colaborar com a ciência moderna porque viveram numa era intermediária entre a origem e a extinção dos dinossauros e, por falta de evidências físicas, como ossos, dentes e rastros, são pouco conhecidos.

As pesquisas paleontológicas no Rio Grande do Sul são muito conhecidas pela pesquisa com fósseis de animais do período Triássico _ entre 230 milhões a 240 milhões de anos. No Nordeste e Sudeste do país, há também muitos fósseis do período Cretáceo _ até 65 milhões de anos atrás. No entanto, há um hiato nessa fase, o período Jurássico, que compreende entre 200 milhões e 145 milhões de anos. Por algum motivo, os fósseis e rastros dos animais que viveram nessa época, são muito raros no Brasil. Por outro lado, a região de Rosário está assentada sobre rochas desta época (a Formação Guará).

- Há poucos registros de rochas do Jurássico no Brasil, especialmente contendo fósseis - diz.

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Francischini e Dentzien-Dias retornaram a Rosário do Sul em 2015 para buscar mais evidências dos anquilossauros, mas não encontraram mais nenhum sinal das cinco pegadas, as quais foram destruídas para sempre.  

  

ANIMAL TERIA UM METRO E MEIO DE ALTURA

Pelas dimensões das pegadas achadas em Rosário do Sul, é possível que o animal que habitava essa região da América do Sul tivesse em torno de 1m50cm de altura. Na Argentina e na Bolívia, os vestígios de anquilossauros indicam animais mais "novos", com cerca de 80 milhões de anos. São bem mais jovens que o anquilossauro de Rosário, cujos dados até agora apurados indicam ser de um animal de 150 milhões de anos.  

O biológo Heitor Francischini ressalta que na região de Rosário até Santana do Livramento existem pegadas de animais bem maiores, com até 3 metros de altura. 

- É como uma janela do tempo - aponta. 

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O mais famoso anquilossauro é o retratado no filme Jurassic Park 3 (2001), continuação da saga Parque dos Dinossauros, de 1997, dirigido por Steven Spielberg.   

Mas a espécie de Rosário do Sul ainda é desconhecida. Somente as pesquisas futuras poderão trazer luz às pesquisas para tentar descobrir o animal que deixou suas marcas pelo solo de Rosário do Sul milhões de anos atrás. 

 

A PRÉ-HISTÓRIA

A divisão dos períodos na Terra durante a Era dos Dinossauros:

Triássico (250 a 203 milhões de anos) - O surgimento dos dinossauros ocorreu entre 230 milhões e 240 milhões de anos atrás. A maior parte dos fósseis encontrados no Rio Grande do Sul é desse período

_ Jurássico (entre 203 e 145 milhões de anos) - No Brasil, as evidências de dinossauros desta época vem principalemente da região de Rosário do Sul, onde os dados apontam para uma idade entre 155 e 199 milhões de anos atrás. É a fase mais desconhecida dos dinossauros no Brasil. No Brasil, não havia evidência da presença de anquilossauros, até a descoberta das pegadas em Rosário do Sul

Cretáceo - Entre 145 milhões e 66 milhões de anos atrás. Muitos dos dinossauros de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso e Nordeste do Brasil são desta idade.

Reprodução de anquilossauro mostrado no filme Jurassic Park 3, Não se sabe se o animal de Rosário tinha essa forma Foto: Reprodução / Reprodução

O anquilossauro
_ As espécies deste grupo de dinossauros tinham uma couraça no corpo e, alguns, uma espécie de porrete grande na cauda, constituído de ossos. Eram herbívoros equadrúpedes

_ Os anquilossauros viveram entre o Jurássico e o Cretáceo. A descoberta de Rosário do Sul indica a existência desses animais na América do Sul a pelo menos 150 milhões de anos. Grande parte dos fósseis de anquilossauros foram achados na América do Norte (Canadá e Estados Unidos). Eles habitaram áreas que eram ricas em vegetação, quase sempre próximas a lagos e rios

_ Os maiores anquilossauros podiam medir até 10 metros de comprimento e pesar 4 toneladas 

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